quinta-feira, 3 de abril de 2008

Filosofia de butequim

Hoje é 3 de Abril de 2008. De vez em quando eu olho algum fato ocorrido "ontem", e de repente percebo que 2001 já está sete anos atrás (quando eu casei), que 1998 já acabou faz dez anos (quando eu me formei no colégio), e que 1990 já faz uma eternidade (quando o lazarento do Lazaroni comandava a lazarenta da seleção). Nem vou tentar lembrar de quando o Tancredo morreu, só sei que tocaram Coração de Estudante no dia.

É engraçado como as coisas acontecem na vida da gente. Embora eu não consigue me imaginar voltando para o Brasil agora, eu também não consigo me imaginar no Canadá daqui a 10 anos, às vezes nem em cinco anos, de vez em quando a gente vislumbra a possibilidade de ficar só uns 3 anos, arrumar as coisas e voltar. Não que aqui não seja bom, pelo contrário, as coisas de Primeiro Mundo que a gente não tem no nosso Terceiro são ótimas - escolas, transporte público, violência, rede pública de saúde (já que a rede privada do Brasil é muito melhor). O que acontece é que às vezes o outro lado da balança também pesa.

É um peso que dá para sentir nas costas em pequenas coisas - embora as poucas festas que a gente tenha ido aqui tenham sido ótimas, é estranho ficar todo mundo te olhando com cara de E.T. quando você começa a cumprimentar as garotas ou dar a mão para todo mundo. O clima pesa também, por mais adaptado que você esteja, dá vontade de poder usar uma roupa mais leve algum dia ou então de, pelo menos, ter mais variadade de casacos. Se EU me sinto assim, imagina a Soraya. Outra coisa são as referências que a gente tinha no Brasil, amigos, família, lugares preferidos, tudo isso ficou para trás - um grande casal de amigos nossos irá nos visitar em breve e eles com certeza são parte grande e importante destas referências, meu pai deve vir no ano que vem e eu acho que neste meio tempo mais uns gatos pingados vão aparecer aqui. Acho que deve dar uma acalmada no instinto de pássaro fora do ninho, mas não é como se a gente tivesse no Brasil:

"Kb.Lo, seu bundão, vou passar aí para tomar umas e fritar uma linguiça"

Tem também as coisas que parecem besteirinha mas não são. O Ruangvid, o cara da Tailândia que mora no Canadá já há algum tempo, me disse que ele pensa em voltar para a Tailândia por dois motivos principais - garotas e cultura. Segundo ele, as garotas daqui são meio afetadas e ele não gosta muito do lance de "melhor garota do colégio" que as culturas Americanas e Canadense (em menor escala, CREIO eu) compartilham. Ele anda pensando em ir para Bangkok ou então para as paradisíacas praias do sul (lembra do filme A Praia?). Eu nem pensaria em ir para Bangkok, pegaria um avião que pousasse direto na areia.

A gente de vez em quando sente falta das nossas saidinhas noturnas enquanto estávamos em Santos, ir para um barzinho, conversar com os amigos, coisas do tipo. Aqui isto tudo é meio complicado, o Arthur é um bicho ruim para ficar com gente estranha e também confiar em Baby Sitter não é fácil, afinal você só está deixando com ela o seu filho! É complicado. Outra coisa que a gente sente muito aqui é o fato de não ter um carrinho ainda. É como se estívessemos aproveitando 10% do que o Canadá tem a oferecer. Ainda não fomos para o Lake Louise, ainda não fomos para as montanhas e eu ainda não fui parado por um carro de polícia com a sirene ligada no meio da estrada. Nem podemos dar as nossas voltinhas clássicas de Domingo à noite para por o moleque para dormir ou simplesmente para ver o lado de fora num Sábado chuvoso.

Carro faz falta. Ainda mais aqui nesta cidade espalhada.

Acho que a Soraya deve ir para o Brasil lá pelo meio do ano, deve ajudar um pouco na saudade que foi multiplicada exponencialmente quando eu estava no Brasil e a casa aqui, desabando. Acho que se a gente conseguisse ir com certeza uma ou duas vezes por ano a nossa estada aqui poderia ser muito mais prolongada, mas também será que é isso que a gente quer?

Vir para o Canadá nunca foi um sonho. Foi uma oportunidade que apareceu, e a gente poucas vezes se imaginou passando o resto da vida aqui, eu particularmente fico aliviado com a possibilidade de voltar depois de 3 ou 5 anos. Não que você tenha que pensar "mas o que ele está falando, porque ele não volta agora, já que está tão ruim?", na verdade está LEGAL, a gente gosta muito daqui, mas não é o Brasil, não é a nossa cidade. A gente (a Soraya mais do que eu) sempre foi muito "integrado" com o que acontece na nossa cidade, e aqui é como se a gente ainda fosse uns turistas caipiras que não sabem de nada.

Em resumo, eu acho que como EXPERIÊNCIA de vida é sensacional, como VIDA é meio estranho.

PS: Eu não estou triste hoje ou nada disso, eu sempre refleti sobre isso mas nunca quis escrever aqui. Salvo acontecimentos cósmicos inesperados, a gente volta algum dia nos anos que virão. Isto é mais uma constatação do que uma promessa, é como se fosse um fato da vida :-).

Viver em outro país não pode ser um sonho até você saber de fato como é a vida por lá.

Fui!!!

Amanhã vou escrever sobre como o movimento migratório dos Corvos afeta a vida sexual dos patos daqui.

9 comentários:

Anônimo disse...

Pow, Ravi!
depois de um post serio desse, cara, voce vem com esse papo de corvo e pato? E ainda vou ter que esperar ate a manha pra ler sobre isso? quale?? Rolei de rir...
Agora, falando serio, acho que voces deveriam dar um jeito de sair um pouco, o casal, que seja 1 vez de 15 em 15 dias. Nao tem uma mae de amigo da escola? Nao tem uma tia ou ajudante da escola que faca baby sitter? Alguem que o Artur ja conheca? Meu, esses momentos a dois sao super importantes, espero que voces achem uma alternativa. E outra, acho que carro faz falta mesmo! E as montanhas sao lindas, estivemos ai faz um ano, vale a pena umas escapadas pra la, especialmente agora como calor chegando. Nao da pra comprar aquele carrinho russo??
GRANDE abraco, Octavio

Andresa e Marcio disse...

Ravi,
Poxa! vida você consegui exprersar EXATAMENTE o que eu sinto e quando tento explicar para os outros ninguém me entende. Penso assim mesmo. Quero aproveitar tudoooo aqui e depois voltar para o meu lugar.
Adorei o post.
Bem que a gente pode combinar de ir todo mundo para os lagos,vocês, Mildred, Renato, Gabi e Lucas e as e nós. Já tentei marcar um encontro com a Soraya um monte de vezes...provavelmente no desfile a gente vai se conhecer.
Um abraço,
Andresa

Anônimo disse...

Espero que o dia da volta naum demore muito pra chegar...mas eu jah sabia que ele chegaria.

XoP

Beijos!

Ravi disse...

Octávio:
Sei lá. O pessoal fala que a Primavera é uma das piores estações do ano porque "diz que" vai esquentar mas demooooora, e esta espera é matadora. Demora para aparecer o primeiro ramo verde nas árvores, demora para aparecerem as primeiras folhas, etc...
Tudo tem que ser analisado, mas este é um sentimento que eu sempre tive. Um dia eu quero voltar.
Não dá para comprar a passagem de volta um dia cinza de neve com -30 do lado de fora, mas também não dá para dizer "vou ficar o resto da vida" em um dia de sol com borboletas voando do lado de fora :-).

Ravi disse...

Lú:
Um dia a gente volta sim! E, de qualquer jeito, quando eu for para o Brasil de novo, a gente com certeza vai se ver (e vocês vão ver como o pequeno anda crescendo)

Ravi disse...

Andresa:
Que bom que você se identificou com o que eu escrevi! Às vezes é meio difícil tentar fazer as pessoas entenderem o que a gente sente em relação às coisas - é mais fácil "dar uma pausa" nas coisas de casa do que abrir mão de tudo que a gente viveu até o dia de embarcar no avião.
Não sei vocês, mas a gente mantém contato direto com os amigos e família no Brasil! Eu ainda quero saber o que acontece na terrinha!

Cecilia Brandao disse...

oi Ravi,

Eh interessante ler sobre opinioes tao diferentes... A mudanca, no nosso caso, como vcs sabem, foi um projeto de vida e o processo de imigracao eh bom para amadurecer a ideia, pois demora e nos meses de espera pode-se pensar muito a respeito... Nao digo que nunca mais voltaremos, pois nao sabemos, ja que nao pensamos nisso agora. Queremos mais eh nos adaptar, aprender bem a danada da lingua, curtir o lado bom da cidade, fazer um novo circulo de amigos, etc. Mas entendo perfeitamente voces e o que sentem!!

Sinto tambem muita falta da familia e amigos, da Cecilia podutiva e advogada, mas quando isso acontece, abro o site do Estadao e leio so um pouquinho do noticiario regional...;)

Vou esperar para ler o post sobre o que vcs pensam sobre o Arthur. O que vcs imaginam sobre a readaptacao dele apos 3 a 5 anos de Canada e alfabetizacao em ingles, etc...

Ja ofereci e eh serio: quando quiserem deixar o Arthur aqui ficaremos imensamente felizes e prometo cuidar bem dele e deixa-lo fazer bastante bagunca com o Ma :). Meu, tire logo sua habilitacao e compre um carrinho de milao ou dois milao. Se nao der para ir para as rochosas, vai pelo menos poder passear pelo Fish Creek, Stanley Park e outros parks de a a z.

abracao para vcs

Cecilia

Ravi disse...

Oi Cecília:

Às vezes o que a gente sente em relação ao lugar muda para melhor ou para pior de acordo com uma série de fatores. Acho que quando esquentar de novo a gente com certeza não vai pensar tanto em ir embora, quando esfriar de novo a gente vai ficar desesperado por um lugar ao sol, e poraí vai. A minha idéia inicial era mesmo de ficar no Canadá por até cinco anos, não mais do que isso, para a gente não perder totalmente toda a nossa referência cultural e pessoal.

Sei lá, é como não querer perder a minha identidade. É meio complicado, mas de verdade, eu nunca pensei em viver o resto da vida aqui, a Soraya menos ainda já que a família dela é imensa. A gente quer viver esta experiência da melhor maneira que der, mas o que pesa não é o fato isolado da gente não querer deixar o Arthur com ninguém que não seja a Avó dele (é uma coisa nossa e também do Arthur, é difícil para ele querer ficar na casa de alguém), nem o frio, nem a distância, mas tudo isso junto.

O que pesa mesmo é a distância da família e das pessoas com quem você convivia diretamente, e tudo de bom e ruim que isso traz :-).

A gente tem que se combinar de ver de novo qualque hora, já faz uns meses desde a última vez que a gente se viu. Fala pro Antônio e o pro Mateus que eu fui na piscina de novo com o Arthur outro dia, eu adorei a Hot Tub!

Abraços, Ravi.

Ravi disse...

Em relação ao Arthur acho que ele ia é gostar de voltar, mesmo depois de um bom tempo tendo passado :-).