segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cheguei

Ok, cheguei.

Oito caixas não foi fácil, mas chegou tudo inteiro. Nada quebrou. O que quebrou, quebrou aqui (uma garrafinha com areia dentro daquelas que eles vendem no Nordeste e uma bolacha de chopp chiquetosa). As caixas chegaram meio amassadas, deformadas, mas as alças chegaram quase todas inteiras (uma só que arrebentou), e nada abriu.

Onde o bicho quase pegou foi na hora de passar pela receita, já que eu não peguei o papel do consulado dizendo que eu morei fora e, com oito caixas, tive que passar pelo raio-x da alfândega. Não pegou nada, mas fica a lição - se você está voltando para o Brasil, arrume a tal da carta com o consulado.

O Felype, irmão da Soraya, foi me buscar numa Fiorino. Me acostumei mal com o meu carro velho com ar-condicionado. O dia foi de calor mas depois já esfriou um pouco, nada demais para os padrões de Calgary, mas aqui a casa realmente fica mais fria do que no Canadá e não tem água quente nas torneiras de casa.

A Hannah está uma figurinha e o Arthur está um figuraço. A Soraya estava tomando conta de tudo sozinha impecavelmente, e eu agora estou ajudando no que eu posso, fazendo as tarefas pesadas, arrastando as coisas de um lugar para outro, limpando quartinho de bagunça, tirando lixo do jardim, etc...

A casa aqui está em constante evolução e às vezes um retrocesso ou outro acontece, como o bonitão aqui que perdeu todas as chaves no Sábado. Ainda tem alguma coisa por fazer mas as maiorias das coisas já foram feitas, tem um forro ou outro por fazer, uma pintura ou outra para repintar, um chuveiro ou outro para trocar. A família da Soraya deu uma força tremenda arrumando a casa para a gente vir morar. A cachorrada apronta mas cuida bem da casa, e o Arthur de vez em quando não quer saber de ir pra fora, mas no geral ele está bem contente com as coisas, e feliz de ter o paizão dele de volta (e eu estou feliz em dobro por estar perto da família).

O que eu acho do Brasil até agora? Dá para dizer o que eu acho que Jaguariúna até agora... Aqui é cidade de campo, mais como uma cidade aos arredores de Calgary do que Calgary em si. A cidade é bonitinha, tem o seu lado feio e o seu lado mais bagunçado, mas no geral a impressão daqui é boa, o centro é tranquilo, tem o pastel (que só aceita dinheiro), o correio (que só aceita cartão de débito do Bradesco), tem a sorveteria (provavelmente só dinheiro também), tem a escola do Arthur, os bancos, tudo que um centro de cidade tem. O clima aqui é agradável, a estrada que vem até a nossa casinha é tranquila.

O home office tem funcionado bem, eu estou trabalhando de casa mesmo, vou ver se dá certo. Comprei um no-break (que nos Estados Unidos e Canadá é conhecido como UPS, ninguém sabe o que no-break quer dizer), tive que comprar um roteador wi-fi novo e um adaptador wi-fi para o computador, não sei se vai dar para cobrar por estas despesas mas não faz mal, se o computador queimar aí ferrou-se tudo. O Arthur fez o home-office dele no outro quarto e fez uma placa com o meu nome para eu pendurar na mesa, e me deu a estátua que ele fez de dia dos pais no Canadá.

Aqui no Brasil:

. Cinema é mais barato do que no Canadá (10 reais = 6 ou 7 dólares, no Canadá o ingresso custa uns 11 dólares);
. No mercado as coisas são caras mas não tão caras quanto eu pensei;
. Cerveja aqui é ridicularmente mais barato do que no Canadá;
. Motorista aqui é mais ou menos barbeiro mas o povo desta cidade gosta de dar ombrada quando anda;
. Eu queria que tivesse mais lugares que aceitassem cartão de débito aqui. Andar com dinheiro é quase obrigatório;
. Aqui realmente não tem waffle congelado, mas hoje eu comprei amendoim japonês e OPA (ou Mandix) no mercado, assim como queijo Catupiry, hmmmm;
. Ah, sim, a gente comeu pastel no outro dia.

O que eu acho cruel é o Arthur entrar na escola às sete da manhã e toda a logística envolvida em sair de casa sem que os cachorros fujam pelo portão. Agora o que a gente vai fazer em casa é:

. Forrar o teto, quer dizer, pagar para alguém forrar o teto;
. Aterrar um circuito ou outro na casa já que aqui tudo dá choque;
. Eu vou colocar uns quadros no meu "escritório" e vou trocar a tela horrível verde da janela por alguma coisa menos verde;
. Regramar a grama.

Mas é isso aí - estou feliz de estar de volta - é estranho não sair de casa para ir trabalhar mas eu acho que vou me acostumar.

Fui!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O fim e o recomeço

Terça-feira é o fim do meu tempo trabalhando em um escritório.

Quarta-feira é o fim do meu tempo de Canadá.

Quinta-feira é o recomeço do meu tempo de Brasil.

Segunda-feira é o começo da aventura de trabalhar em casa.

Pois é, o fim é próximo e o recomeço também. Depois de dois meses a Hannah já nem deve nem mais lembrar quem eu sou, mas Hannah, logo, logo eu estou chegando. Eu estou com saudades da família mas a minha situação agora é muito diferente do que era quando eu cheguei aqui, sozinho, sem dinheiro, em um hotel... Saber que as coisas estão caminhando e ter um número menor de incertezas tira a aflição da equação, e eu sofro muito menos quando eu tenho a certeza de que o que eu espero que vá acontecer vá de fato acontecer. A família está no Brasil mas eles estão bem, e eu tenho data para vê-los. A casa aqui já não mais existe mas a gente tem uma casa por lá. Este mês vai ser um pouco apertado financeiramente por conta de vários motivos, mas mês que vem o dinheiro vai chegar. E poraí vai.

O Paulo e a Eliane me ofereceram o basement deles para eu morar neste mês e meio depois que eu entreguei o meu apartamento, e foi uma ajuda e tanto, um favor que um dia quem sabe eu possa retribuir.

Ontem a gente desceu o Bow river de barco e eu fiquei pensando "porque a gente não fez isso antes?". O meu celular deu um mergulho, ele ainda funciona mas agora eu nem posso mais vendê-lo.

Para trás fica a experiência de viver em um país estrangeiro e os amigos que a gente fez aqui.

O resto a gente leva com a gente.

As cidades Canadenses são muito bonitas, as vizinhanças sempre são ajeitadas, as casas não costumam ter muros e a grama costuma ser cortada. Exceções à regra, as vizinhanças Canadenses são sempre mais ajeitadas que as Brasileiras. O setor público aqui é melhor do que o setor público do Brasil, mas eu acredito que quando você compara a saúde privada Brasileira com a saúde pública Canadense, a saúde privada Brasileira sai ganhando. As escolas públicas daqui são muito boas e nisso eu ainda não posso fazer comparação, com certeza são melhores do que as escolas públicas Brasileiras, mas eu preciso fazer a comparação com a escola privada do Arthur no Brasil.

A comparação de privado x público não é completamente furada porque quem imigra para o Canadá teria condições de pagar por serviços privados de qualidade no Brasil. Mas, de resto, o Canadá é melhor nos números do que o Brasil - aqui tem menos violência, menos corrupção, os filmes saem antes nos cinemas, e o país é muito mais rico. O clima aqui é frio, e o inverno é longo.

Mas aqui não é o Brasil. Não tem aquele lugar que você possa dizer "eu fui ali quando eu era criança", ninguém viu os mesmos programas que você na TV, ninguém sabe quem é a Xuxa. Quando alguém fala um nome de filme em Inglês você não sabe o que é porque você só lembra o título em Português. Aqui não tem a família, os amigos de longa data, o pessoal que foi no seu casamento ou que estava no hospital quando o primeiro filho nasceu. Aqui não tem a casa de alguém para ir passar o final de semana, não tem Vejinha para ver os programas de final de semana, não tem pastel à céu-aberto.

Todas estas coisas fazem parte de quem você é. A gente nunca quis mudar e ser Canadense. Eu nunca fui esquiar, e quando tentei patinar fui um fracasso. Eu não gosto nem um pouco de Hockey. Nunca entendi Curling.

Se você tiver a chance de ir morar fora, vá. Se for para o Canadá, melhor ainda. Este é um país maravilhoso com várias oportunidades, que no geral acolhe bem estrangeiros. Esteja preparado para passar necessidade e viver sem dinheiro por um tempo, e esteja preparado para voltar se for necessário. O Canadá é bom mas dinheiro aqui não dá em árvore. A imigração é difícil, e não por acaso o processo migratório é comparado à um processo de luto.

Preciso ir agora.

Fui!