terça-feira, 28 de agosto de 2007

Brasileiros no exterior

Olá caros amigos, colegas e alguns desconhecidos que eu não sei se ainda tem paciência de ler o meu blog. Aqui estava eu tomando um café da Tim Hortons (café com leite, até que está bem gostoso), fuçando em algumas comunidades no Orkut sobre Calgary ou Canadá em geral, e resolvi dar uma filosofada sobre isso (eu estou ouvindo Nando Reis de novo)...

... eu fiz este texto à tarde, salvei, e agora eu estou em casa, de noite, terminando de escrever - eu precisava trabalhar durante o dia.

Mas a filosofia ainda continua. Estes dias eu estava conversando com a Soraya sobre imigrantes em geral, o porque de haver alguns imigrantes revoltados aqui (e do porque de a maioria dos criminosos serem imigrantes em geral), e porque também há outros que são super simpáticos e fazem questão de ajudar no que precisar.

Quando você imigra, é sempre melhor imigrar com emprego certo. Com visto. Legalizado. Porque se você não estiver legalizado, você não tem para onde correr. Você não tem plano de saúde, seus filhos não podem ir para a escola, se teu patrão te demitir você não tem para onde correr. Mesmo que você imigre legalizado (meu caso), é bom ter noção de que nem tudo vem da noite para o dia. Não existe almoço grátis, como diz o Kerry. Tudo tem que ser trabalhado, as coisas podem levar mais tempo do que você espera, existem custos aqui, as coisas funcionam, é verdade, mas nem tudo são flores amarelas em um jardim esverdeado.

Tomem meu caso, por exemplo. Embora eu ganhe bem, mesmo para os padrões daqui, eu não tenho crédito (ainda). Eu não posso tirar um cartão de crédito a não ser que eu deixe um depósito de segurança no banco (que me será devolvido depois de um ano). Financiar um carro é difícil. Com as taxas de juros que o pessoal paga aqui, mas difícil ainda, pelo menos nos primeiros um ou dois anos, até eu formar crédito aqui. Tudo funciona assim aqui. Você tem que pagar depósito no aluguel, na conta de luz, no cartão de crédito, até você provar ser uma pessoa confiável. Quando eu comprar um carro, vou ter que pagar a vista. Talvez no próximo fique mais fácil, mas no primeiro, não tem jeito.

Eu recebo semanalmente. Nas duas primeiras semanas do mês, a gente pode dar uma esbanjada, comprar móveis, as coisas que estão faltando, porque sobre dinheiro. Nas duas últimas, a gente tem que economizar para pagar o aluguel. Aqui sobre mais dinheiro do que sobrava no Brasil, mas também existem custos. 170 dólares com os cartões de transporte para mim e para a Soraya. 88 dólares do plano de saúde familiar para todo mundo. 130 dólares, mais ou menos, de telefone, TV a cabo e Internet. 50 dólares de luz. Eu gasto uns 30 ou 40 dólares por semana almoçando. O aluguel é 1200 dólares. Quando eu comprar um carro, fora a gasolina, vou ter que pagar mais de 100 dólares por mês de seguro, que é obrigatório aqui. Custos, custos, custos...

Aí vem você, imigrante ilegal ou mesmo legal, que veio para cá sem falar Inglês e sem qualificação profissional, ou então com um diploma que ninguém reconhece aqui. Você tem que trabalhar no McDonald's mesmo tendo uma puta formação universitária. Ou então montando sanduíches em algum dos Sub's daqui, mesmo tendo 50 anos de idade e uma vasta experiência de vida. Você ganha 1500, 2000 dólares por mês. Mora em um basement. Não consegue juntar dinheiro para ir ver a família. Começa a ter filhos que não pode sustentar. Qual é a real frustação de tudo isso? Como é ver o castelo de cartas desmontar? Tudo é uma questão de expectativas. Você achou que ia ser um conto de fadas? Que ia ser chegar aqui e sair dirigindo uma daquelas pickups de 30000 dólares? Infelizmente, não é assim que essas coisas funcionam. E muitas destas pessoas piram, ficam deprimidas, caem no crime ou então persistem e conseguem dar a volta por cima. Cada caso é um caso. Não quero falar por linhas gerais aqui. É apenas a minha opinião.

Mas também existem o outro lado...

... e é o porque do título deste blog ser "Brasileiros no exterior" - porque, no geral, quando eu encontro imigrantes latinos e Brasileiros aqui, eles são ótimos. Super simpáticos. Brasileiros, praticamente todos que eu encontrei eram super gente fina, tirando um pessoal da Capoeira que nem olhar direito na cara olha. Se tem família, então, nem se fala. Existe cumplicidade. É como se tudo mundo tivesse junto no mesmo barco, o barco dos que "não aguentam mais o Brasil mas estão longe de tudo que já foi uma referência". O sentimento de comunidade é maior. É engraçado explicar. Existem comunidades no Orkut onde as pessoas realmente ajudam. Faz uma diferença para quem está do lado de cá.

E também faz você ver que Brasileiro ainda é um povo simpático, amável, honesto. Talvez a gente só precise de uma forcinha. Talvez você só precise estar em um lugar onde você realmente sinta que possa confiar em um estranho, sei lá. Eu lembro de quando a Sabrina perdeu a bolsa em Santos. De tanta gente que podia ter visto a bolsa, pego, ajudado, tentado devolver, quem pegou foi um ladrão. Que pegou celular, que não devolveu nada e sumiu com tudo. Que recebeu ligações e ignorou. Eu já vi isto acontecer outras vezes.

É triste quando a probabilidade de te devolverem alguma coisa perdida é menor do que a probabilidade de te sacanearem. Foda. É triste ver o Lula no governo. Anac. Congonhas. Mensalão, menores assassinos, e todas estas coisas. Aqui existem crimes. Uma mulher que furtou um caminhão não vai ser presa. Ela vai ter que pagar uma multa e prestar serviços comunitários. Se ela não pagar a multa, vai presa. Se for presa, ficará sem liberdade, mas terá ajuda para retomar a vida em sociedade. Mesmo que você seja um assassino condenado a 25 anos de prisão (assassinato em primeiro grau, acho que é a pena mínima), eles vão tentar te ajudar a ter uma vida depois da prisão. Acho que esta é a diferença, cidadania.

Filosofei. Agora vou dormir. Fazia um tempo que eu estava querendo escrever sobre isso. Nestes dias eu vi um filme chamado "Fast Food Nation", tratava sobre hamburguers e imigração ilegal de Mexicanos para os Estados Unidos. Vida cã. Acho que não vale a pena. Sei lá como era a vida antes para eles. Você não tem nada. Eu estava vendo um relato de um Brasileiro ilegal nos EUA. Casou com uma mulher de lá, por contrato. Ela não legalizava ele. Alguns anos depois, ele pediu separação. Ela denunciou ele. Ele foi preso. Ela roubou tudo dele. Ele não tinha para quem se queixar. Era totalmente ilegal, cruzou a fronteira pelo México. Foi deportado. A família toda ficou lá. Tinha problemas no Brasil. Morou na rua aqui por 10 meses até conseguir se reerguer. Vale a pena imigrar ilegal? Com certeza não.

5 comentários:

Anônimo disse...

falou, Ravi. Me coloquei em dia no teu blog. legal tuas filosofadas. Foi meu avô que veio da Áustria formado, com 28 anos.Eu tinha 28 qdo.vim para Caraguá e teu pai, 30, com nossa formação pronta. Ler teu blog me emociona. Tens boa cabeça. O importante é ser feliz. Comprei um webcan e precisamos marcar prá eu ver vocês.Vou tentar agora. Fui.

Anônimo disse...

preciso saber se tu estas on-line. Estás?

Anônimo disse...

Falou tudo Ravi, achei exelente o que escreveu, entrei na comunidade do orkut outro dia e vi duas brasileiras falando que o sistema de saude ai é pessimo que nao era igual no brasil, meu marido também leu e achou engraçado e perguntou de que Pais elas estão falando?Até parece que o sistema de saude aqui é bom, e olha que moramos em São Paulo na Capital.Achei interessantissimo falar isso, temos que ser realistas.
Entrei no blog de sua esposa outro dia mas não consigo deixar recado no blog dela.Gostaria de saber mais ou menos quanto oa custo de supermercado mensal sem estravagancia, mas comida que de para 1 mes.
Desde ja agradeço!

Ravi disse...

Oi Veronice, não precisei usar o sistema de saúde aqui, mas eu imagino que deva ser melhor do que o do Brasil, com certeza. O pessoal daqui usa a saúde que é fornecida pelo estado, então deve funcionar.

Em relação ao mercado, se você for cozinhar todo dia para três pessoas, eu acho que vai uns 600 dólares por mês. Mas é totalmente chute. Um quilo de carne de porco sai por uns 7, 8 dólares. Um quilo de carne de vaca é mais caro, uns 15 dólares. Dá para pagar um pouco menos, dá para pagar bem mais.

Sal, arroz, refrigerante, isso tem e não é caro. Muitas coisas no mercado são mais baratas do que no Brasil e outras são mais caras (fui super genérico agora). Cereal, aqui tem de monte. Leite, iogurte, carne. Tem tudo. Acho que você vai gastar menos do que no Brasil, na minha opinião.

Anônimo disse...

brou... adorei este post !! Desculpe o atraso, mas tava de férias !!
Aquele !
kb.lo