sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Canadá, curtas e pensamentos

Eu estava lendo alguns tópicos nos grupos de discussão e me lembrei de uma pergunta que sempre me fazem quando descobrem que eu sou do Brasil:

"Porque você veio para o Canadá?"

E eu respondo "não sei, aconteceu". E pior é que foi isto mesmo. Eu provavelmente já falei sobre isso várias vezes no blog, mas foi uma oportunidade de trabalho que surgiu e que a gente agarrou e segurou até conseguirmos vir. Foi meio difícil enquanto eu estava no Brasil (foi bem difícil) porque eu saí do meu emprego e fiquei trabalhando em casa sem receber. Seis meses depois nós estávamos em uma encruzilhada, com uma chance real das coisas aqui não darem certo, e tivemos que decidir de novo por vir já que tínhamos gasto tanta energia até então. Eu já estava com os dois pés fora do Canadá mas a Soraya fazia mesmo questão de vir e a gente decidiu que ia arriscar (já que a situação financeira da empresa aqui não era grande coisa) e eu peguei o avião umas semanas depois.

O meu primeiro mês aqui foi bom e ruim ao mesmo tempo. Depois de passar seis meses em casa com o moleque por perto o dia inteiro, a distância se faz sentir BASTANTE. E eu não tinha as comodidades que eu tenho hoje, como internet em casa, skype, telefone internacional e todos estes mimos. A minha primeira noite aqui foi horrível, eu estava cansado da viagem, liguei para o Brasil e o Arthur falou "papai, quando é que você vem para casa?" ou algo do tipo e eu chorei que nem criança. Eu estava me sentindo um lixo humano depois de 40 horas acordado. E nem conseguir ligar o chuveiro no banheiro do hotel eu consegui, tive que ligar para a recepção e pedir para eles mandarem alguém.

Mas depois de uma boa noite de sono meu humor melhorou bastante e eu pude conhecer a cidade com mais calma. Eu falava com a Soraya no Brasil quase todo dia e a gente se apoiou bastante nesta fase. Eles estavam loucos para vir logo também. De novo, ela que me manteve na linha e segurou a bronca. A espera foi um pouco maior do que a gente esperava...

... mas quatro semanas e alguns contratempos depois (depois da terceira semana a saudade aperta), eles chegaram. No começo a gente se sente meio deslocado, mas depois vai conhecendo mais a cidade e amadurecendo também. Mudar é uma coisa fantástica e complicada ao mesmo tempo - você perde quase todas as referências que você acumulou durante a sua vida, mas a descoberta e o contato com as coisas novas é algo estimulante, e que te faz querer continuar no "novo" até que o "novo" vire o seu dia-a-dia.

A viagem do Arthur e da Soraya para o Brasil é algo há muito tempo esperado e que finalmente saiu. Nós temos o costume de criar "metas" para poder continuar as coisas e a viagem para o Brasil era uma destas metas, e por várias vezes foi uma oportunidade que escorreu pelas mãos.

Mas agora vai! Eles merecem!

Só terminando de responder a pergunta lá de cima, eu acho que nunca pensei em vir para o Canadá. Parecia frio demais, vazio demais, longe demais e com gente de menos. E Calgary? Nunca tinha ouvido falar. Tive que pedir para soletrarem. Fiquei surpreso quando descobri que era a TERCEIRA maior cidade do Canadá e tinha mísero um milhão de habitantes. Come-on, um milhão?! Mas aqui estamos...

...

Falando em metas, eu também tenho minhas metas:

. Entrar no emprego novo para comprar uma bicicleta e perder minha amiga incoveniente, a barriga;
. Receber a restituição de imposto de renda (será que ela existe?) e comprar um violão;
. Receber a permissao de trabalho e mandar um E-Mail para o meu chefe com o videozínho FREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEDOM do filme Coração Valente e explicar que na vida tudo é passageiro, menos o cobrador e o motorista.

...

. Junto com a incumbência de cuidar do gato do vizinho vem também a parte de limpar a merda da gata velha. Não contente com a caixa de areia ela resolveu cagar o porão inteiro. E é carpete. De repente, me senti menos culpado por estar usando o carro deles hora ou outra;
. Ontem cheguei em casa e fui com o Arthur no parquinho que é o "buraco". Não sei o que é aquilo nem como explicar, mas do lado do parquinho tem um campo do tamanho de uma quadra que é afundado em relação à rua, com várias mensagens de "não fique aqui se começar a chover". Deve ser tipo um piscinão daqueles que tem em São Paulo, mas mais humilde.

. Comecei a trabalhar com PHP no trabalho. É uma linguagem de programação para Internet. Aprender uma linguagem de programação nova é que nem aprender uma língua nova - a gente tem que consultar o dicionário para tudo e não dá para montar uma frase completa sem ajuda.

. Ontem eu fiquei vendo um esquilinho escalando a árvore de casa por uns 10 minutos. Na ponta de um galho tinha umas frutinhas pretas que eles devem adorar, porque o coitado quase caiu da árvore umas cinco vezes tentando alcançar o seu manjar dos deuses;
. Aliás, eu comi manjar uma vez. Não tinha gosto de nada;
. O pessoal do trabalho fica surpreso com o fato de que eu gosto de sal e que eu consigo comer sal sem tomar água depois (eu faço isso às vezes quando estou com um gosto ruim na boca, eu sei que não é bom, mas é só um pouquinho). Sal? Sal não é nada, eu não sei como é que eles conseguem comer tanta pimenta e ainda sentir algum outro gosto.

. Eu lembrei de alguma coisa positiva, esclarecedora e resolvedora dos problemas da humanidade enquanto eu estava no ônibus, mas ela foi esquecida em alguma pedrinha que eu chutei na meia quadra até o trabalho;
. Ontem eu cheguei atrasado porque o Arthur mudou a hora do alarme para nove horas;
. Hoje eu chegue atrasado porque eu não vi que o Arthur colocou o relógio para nove horas da NOITE, e ao atrasar o alarme duas horas eu botei ele para despertar sete da noite e não da manhã, como o esperado;
. E quando eu acordei e olhei que o dia estava mais claro do que deveria estar (e eu estava mais descansado do que de costume), pensei "nossa, mas eu arrumei o horário do alarme". Olho e vejo que o horário do alarme está "PM" e não "AM";
. Acordei e fui cobrir o menino. Pensei "boa Arthur, você deu uma hora a mais de sono para o papai";
. Aliás o Arthur só não se descobre quando está fazendo um frio glacial em casa. E eu sempre durmo de edredon;
. Palavra estranha. Edredon. Deve ser Francês.

Falando em Francês, liguei hoje para a receita federal daqui e me atendeu um Francês que não falava Inglês direito. Vou ter que esperar mais um pouco. Acho que até o Natal a restituição chega.

Nossa, quarenta minutos já se passaram desde que eu comecei a escrever. E, como eu cheguei atrasado, já é hora do almoço. Acho que eu vou comer para sumir com a culpa de não ter trabalhado ainda :-).

Fui!

2 comentários:

Elaine Bittencourt disse...

Edredon eh frances mesmo. :)

Eu nunca tive vontade de morar fora do Brasil, sempre tive vontade de viajar, conhecer outros lugares. Mas as coisas acontecem de um jeito e a vida da gente, quando a gente se dah conta, ta mudada. Quando eu mudei de vez p/ cah foi porque eu quiz. Na primeira foi temporariamente. =)

Ravi disse...

Pois é, né?

A gente nunca sabe para onde o vento vai levar a gente. Mas eu acho que temos que procurar uma vida melhor, sim. E se adaptar aos lugares é mais fácil do que a gente pensa.