quinta-feira, 6 de março de 2008

Um final de semana em Toronto

Bom, vou narrar o resto da viagem. Na Sexta-feira, quando a mulher me disse que só tinha vôo para Domingo, eu fiquei bastante preocupado pelo fato de só ter 70 dólares no bolso. Eu meio que passei pelas cinco fases da tragédia:
  1. Negação: "puta que pariu, não acredito que perdi o vôo e só Domingo, deve ter alguma coisa que dê para eu fazer"
  2. Raiva: "porque nevou tanto? porque o avião atrasou? porque não seguraram o avião para o Brasil"?
  3. Barganha: "vamos implorar para pegar o avião no sábado"
  4. Depressão: "fodeu"
  5. Aceitação: "tá no inferno, abraça o capeta"
A minha idéia inicial era dormir a primeira noite em um canto quieto do aeroporto (um aeroporto grande como o de Toronto tem vários), e ver o que fazer na segunda noite, já que DUAS noites seguidas no aeroporto me pareceu programa de índio demais, e eu ia estar em um estado lastimável durante o vôo para o Brasil. Mas eis que um cara que eu conheci no avião me ofereceu uma alternativa (na verdade no embarque em Calgary, eu viajei do lado de um clone do Obama, candidato à presidência dos Estados Unidos, e do lado de um sósia do John Candy. Mas até que a viagem foi tranquila. O Obama não falava quase nada e o John Candy saía para ir no banheiro a cada 15 minutos e ficava mais de 10 minutos por lá, então eu tinha bastante espaço). A alternativa era que ele e um outro cara iam dividir um quarto de hotel (eles estavam vindo de um congresso em Banff, os dois eram físicos), e eu podia arrumar um canto no quarto para dormir. Opa. Era um Austríaco e um Francês. Por mais estranho que possa parecer ser chamado para dormir em um quarto de hotel por dois europeus, tive que aceitar, afinar dormir em chão de quarto de hotel é melhor que dormir em chão de aeroporto. E foi isso mesmo - dormi no chão até tarde (em cima de um cobertor), tomei um banhão de manhã e fui para Toronto com um Francês que parecia o Desmond, do Lost, uns 50 quilos mais magro. O cara da Áustria ia para os Estados Unidos e conseguiu uma conexão Sábado de manhã.

Em resumo, Toronto é uma cidade muito bonita. A gente ficou no centro da cidade, eu vi o lago congelado, andei em um shopping de vidro que tem por lá, vi a CN Tower mas não subi porque era muito caro, o Francês queria comer comida de verdade e não fast-food, a gente foi jantar, o Francês pagou mas não rolou beijinho. Eu tenho amigos que não perdoam. Vamos lá:
  1. O Francês, mesmo falando um idioma meio afetado, era gente fina, casado, tinha uma filhinha de oito meses e a gente estava no mesmo barco (o vôo dele também era para Domingo);
  2. Eu estava com 70 dólares no bolso na Sexta-feira e tinha que fazer durar até Domingo;
  3. Foi só fast e trash food o final de semana inteiro;
  4. E o Francês disse "cara, eu preciso comer comida decente, tá foda fast-food o final de semana inteiro", e eu disse "vai na fé, irmão, os manos pá, as minha pôu, mas eu vou lá no Quiznoz comer um sub";
  5. E o Francês então disse "cara, se eu estivesse sozinho eu ia ficar em um hotel caro. Graças à você, estou num albergue (Brasileiro dos infernos) e economizei uma grana. Eu pago o jantar, no stress";
O albergue era meio lazarento. O quarto cheirava a sovaco. Eu dormi na parte de cima de um beliche, e na parte de baixo dormia um cidadão de sei lá aonde. Todas as vezes em que eu entrei e saí do quarto tinham dois caras com seus notebooks. O tempo todo. Um era japonês. Acho que eles estavam vendo Toronto pela internet, deviam estar com preguiça de colocar o nariz para fora. Tinham alguns Brasileiros por lá, e um que foi deportado dos Estados Unidos não via a mulher e a filha há dois anos. DETALHE que o cara tem passaporte Italiano também e poderia ir para lá a qualquer momento. Vai saber. Cada um com seus cada uns.

Em resumo, o que eu vi de Toronto que foi interessante:
  1. Tem mais diversidade étnica do que Calgary;
  2. O lago É bonito;
  3. O centro da cidade para centro de cidade de cidade grande;
  4. E a cidade é maior;
  5. A CN Tower é alta;
  6. Deve ser bonito lá de cima. Mas torrar 50% do meu capital restante para ir lá, nem a pau, Juvenal;
  7. E as construções do centro da cidade são bem mais bonitas que as de Calgary. Eles tem alguns prédios da década de 30, Calgary não.
Dizem que o trânsito por lá é pior. Vai saber. As ruas me pareceram mais "espremidas" que as de Calgary, mas eu gostei.

Bom, depois de passar o final de semana perdido em Toronto em um esquema budget, foi hora de ir para o aeroporto pegar o avião para São Paulo. Embarcamos no avião, mas antes de as portas serem fechadas um casal Francês (ou Quebequense) foi expulso porque se empurraram, brigaram, riram e se xingaram. Povo estranho. Atrasou meia hora porque tiveram que achar as malas dos dois esquentados. Alguém encontrou a aliança da mulher depois.

Bom, na vinda para São Paulo eu fiquei do lado de uma quase gordinha. Quando o avião começou a descer para pousar no aeroporto, notei que as aeromoças estavam recolhendo tudo e colocando as poltronas na posição vertical. Aí eu falei que elas tem uma super preocupação com a segurança e contei a história de um acidente, em que o avião derrapou na aterrisagem mas todos os passageiros sobreviveram graças à eficácia dos comissários de bordo e aeromoças, e que o treinamento é realmente efetivo. Na minha cabeça nerd, a próxima frase vinda da menina seria "nossa, todo mundo saiu vivo", mas na verdade veio um "nossa, o avião caiu?!?!?!". É. Depois disso a gente pegou uma bela de uma turbulência, a menina passou mal, enjôou, vomitou, e eu fiquei de bico calado, acho que qualquer coisa depois daquilo ia fazer ela piorar.

Mas finalmente cheguei e cá estou.

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