quinta-feira, 27 de março de 2008

Canadá

Embora esse blog se chame "me at canada", faz um tempo que eu não escrevo sobre o Canadá (vida no Canadá, diga-se de passagem). Bom, em homenagem ao título, vou contar parte das minhas aventuras quando a gente começou a se estabelecer aqui. Eu vim para cá com emprego arrumado, uma empresa que nem passa perto de ser um oásis de confiança e estabilidade, mas a vontade de vir era tanta que a gente resolveu arriscar mesmo assim. Bom, a aventura começou no fim de 2006, mas a gente veio mesmo foi no meio de 2007. E é para lá que eu vou.

Embarquei no dia 4 de Junho de 2007, em São Paulo, rumo à Calgary. Para variar, saí do Brasil sem um pingo de dinheiro, quer dizer, eu tinha alguma coisa só para poder comer e me virar nos primeiros dias. Coisa de 200 dólares. Nada que chegue perto dos milhares de dólares que um residente permanente tem que trazer. Pois bem. No aeroporto, foram me buscar no terminal errado (foram para o desembarque internacional), pois achavam que já que eu estava vindo do Brasil, tinha que estar por lá. Ledo engano, o avião faz escala em Toronto, caras pálidas.

Primeiro dia, conhecer o pessoal do trabalho, curtir os 25 graus do verão Calgariano, ir para o hotel, abrir o berreiro de saudade de casa (eu vim sozinho, a Soraya e o Arthur vieram depois), ir comer no SubWay e não saber que alface é lettuce, que pepino é cucumber e que tomate é tomatoe. Tinham me dito que o hotel tinha uma estrutura boa, e isto tinha mesmo, mas ninguém comentou o fato do bicho ser mais cafona do que seria a casa do filho do Fagner com a Fafá de Belém. Até espelho fumê no elevador o coitado tinha.

Foi uma época de descobertas. Descobrir que a porta do ônibus não abre sozinha e passar vergonha pedindo para o motorista abrir. Descobrir que o trem para o sul e para o norte passam no mesmo trilho no centro da cidade, depois de andar cinco quarteirões procurando o trem que ia para o outro lado. Ver que o café daqui até que é decente se for tomado com creme ou com leite, que a Chapters é sensacional, que não dá para abrir ficha em quase nenhuma locadora se a gente não tiver cartão de crédito, e que SW é melhor que NE. Conhecer o WalMart daqui (deve ser uma vontade de muita gente) e ver que as coisas são baratas, mas que o bicho é meio feio. E foi ver gente de tudo que é canto do mundo.

O primeiro mês foi de devaneios pela cidade para passar o tempo, já que a família continuava no Brasil. Fui em vários lugares da cidade, ainda mais porque o sol ia até às onze horas da noite. Foi bom, mas a saudade apertava.

Umas três semanas depois que eu cheguei, ficou acertado que a Soraya e o Arthur iam vir para cá. Como eu tinha comprado uma máquina fotográfica, um iPod e umas outras besteirinhas, não tinham sobrado muitos dólares para comprar os móveis, mas mesmo assim o que tinha dava para comprar alguma coisa. Fiz uma lista, fui na Ikea, mas só comprei dois terços do que eu tinha planejado porque sempre tem umas coisas que a gente esquece (por exemplo, roupa de cama). Neste meio tempo também eu arrumei um apartamento, o pessoal do escritório me emprestou umas panelas (boas), uma cama de ar (que deve ser boa só para acampar), uma TV sem controle remoto e mais uma meia dúzia de besteirinhas. Quando a Soraya e o Arthur chegaram, no dia 5 de Julho, nossa casa estava mais ou menos. A gente ainda tinha o colchão de ar, o Arthur já tinha uma cama, mas a gente ainda não tinha um sofá ou uma cama de verdade.

Os meses seguintes foram de várias idas à Ikea. Todo bom imigrante monta a sua casa com coisas de lá (é barato e é bonito), embora existam alguns probleminhas - a nossa cama tem umas quinas que são como um imã para os dedinhos do pé da Soraya. Mas eu também comprei o barato do barato, exceto pelos colchões, que são mais ou menos. A verdade verdadeira é que se tivesse uma Ikea no Brasil ia ficar bem mais barato para montar uma casa. Nada de casas Bahia com aqueles móveis cor de caramelo queimado com vidrinhos nas portas (eu sei que é questão de gosto, mas eu acho aquilo feio de morrer - o hotel tinha móveis neste estilo). A verdade é que os nossos seis primeiros meses aqui foram de adaptação. Depois disso, a gente mudou de casa e entramos em uma outra fase, de "viver" aqui mesmo.

A diferença principal para a gente foi o lugar para morar. De um apartamento "enterrado" para uma casa "elevada". Foi como ir da água para o vinho. Lareira, varanda, três quatros, rua calma, dez minutos a mais para ir para o trabalho mas fazer o quê? Depois disso a gente comprou uma TV nova, uma mesa de jantar que a Soraya não consegue pintar da cor que quer e mais umas besteirinhas. Ainda tem coisa para comprar, mas agora podemos dizer que a casa está 90% completa.

Que lições dá para tirar deste período todo?

> A experiência passa a ser mais agradável a partir do momento em que você começa a viver em um lugar que tem mais cara de permanente do que temporário;
> Para mim as coisas ficaram mais fáceis depois de 6 meses, mas isto pode estar profundamente relacionado com o fato de eu ter ido viajar para o Brasil no começo do mês;
> Criança aprende mesmo inglês rápido. Não é lenda;
> Se você usar o Inglês no dia-a-dia, e prestar atenção nos seus erros, invariavelmente a sua fluência vai melhorar bastante;
> Tudo aqui funciona à base de depósito de segurança. Conta de luz e aluguel, tem que dar um (ou uns) mes (es) adiantado(s) para eles terem de onde tirar se você der calote. Eles devolvem o dinheiro corrigido, mas com as taxas de juros de primeiro mundo aplicadas aqui no Canadá, nem adianta se animar;
> Nó cego é nó cego em tudo que é lugar do mundo;
> E o povo aqui é super simpático. Tem umas exceções, como os moradores de rua do centro da cidade e alguns Indianos e Paquistaneses. Os povos africanos são bastante simpáticos e conversam bastante, assim como latinos em geral;
> Você vê muita gente com necessidades especiais (para falar politiquês) na rua, assim como muita gente de cadeira de rodas, bengalas e outros aparatos. Não é porque tem mais do que no Brasil não, é porque a cidade dá estrutura para estas pessoas poderem sair de casa. É um país mais justo para quem precisa de ajuda do estado;
> E a cidade é bonita. E vale a pena, ainda mais se a gente conseguir executar o projeto Brazil Every Year ou, quem sabe, o Brazil Twice a Year :-).

Isso aí. Hora de ir tomar banho!

Fui!

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