quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Can you move to the back, please?

Eu gosto muito do que vi aqui no Canadá até agora. Mas tem uma coisa que eu não gosto muito, que é o fato de eu achar o povo meio acomodado às vezes. Não sei se sou eu que tenho um instinto mala de querer resolver as coisas, separar brigas (o Kb.Lo lembra quando eu salvei um bêbado de ser espancado no show do Pearl Jam), ajudar velhinhas a atravessar a rua, e poraí vai.

Foi que nem no dia em que o filme parou em uma sala de cinema e eu fui A ÚNICA ALMA que se dignou a ir reclamar com alguém. E depois, quando o filme voltou, mas mudo, eu novamente fui A ÚNICA ALMA que fui lá pedir para aumentar o volume.

Pois bem. Aqui em Calgary temos o nosso transporte público e os ônibus, que ficam meio cheios. E sempre tem um cidadão ou outro que "trava" no meio e não vai para o fundo do ônibus, onde sempre tem espaço e até alguns assentos vazios (acho que o cidadão deve ter hemorróida, sei lá). A coisa começa a apertar na parte da frente, por onde entram os passageiros, e o motorista grita "move to the back, please". Mas hoje, não. Todo mundo atravancado na frente, apertado, calor, eu de cachecol, aquele cidadão no meio do corredor segurando todo mundo, não tive dúvida... Olhei bem para a cara do segurança de porta de boate, e lancei em belo e alto som "Can you move to the back, please?"...

... uma menina disse "wow, not so loud". E eu disse "we are tight here", e dei um sorrisinho sem vergonha. A partir desta hora o efeito tomatinho começou - no meu emprego antigo tinha eu e a Regina que ficávamos vermelhos por qualquer bobagem. Pede a voz na reunião e pronto, mas fica vermelho que é uma beleza. E, como a Regina diz, sempre tem algum viadinho para olhar e dizer "nossa, como você está vermelho(a)", o que só piora a situação.

O efeito tomatinho vem acompanhado por um efeito térmico também. Esquenta que é uma beleza. Em um ônibus lotado, isto não é uma coisa muito boa. Foi um tal de tirar gorro, luva, cachecol e depois ficar suando por baixo do casaco. Mas tudo bem. Foi que nem no dia que roubaram minha bicicleta em Caraguatatuba (eu tinha uns doze anos). Peguei a bicicleta da minha mãe decidido a achar o fdp que roubou minha magrela (eu cuidava dela, coloquei marcha, engraxava, fazia tudo), e depois de uma meia hora rodando achei o mesmo. Devia ter uns dezoito, vinte anos, e estava com cara de que estava para indo para uma festa com um amigo. Não tive dúvida. Joguei minha bicicleta na frente deles (eles estavam andando segurando as bicicletas), e disse (mais ou menos isso):

"Você pegou esta bicicleta da minha casa. Ela é minha. Se você me devolver eu não vou contar nada para ninguém".

O cara devolveu a bicicleta e ainda pediu desculpas. Depois deste ataque de macheza com dois marmanjos com o dobro do meu tamanho, é obvio que eu chorei mais do que debutante em dia de formatura. Mas fiquei com a minha bicicletinha querida.

Ou seja, fiz a merda e fiquei nervoso depois. A mesma coisa do bumba. Fiz a merda e fiquei vermelho que foi uma beleza. Depois disso ainda entraram uns 20 passageiros no ônibus e eu pensei:

"O quê? Se vira nego! Eu já passei vergonha uma vez, está incomodado, pede para o povo ir para o fundo, que eu não quero ficar taxado de mala. Se vira".

Mas no fundo, o que me deixa revoltado é pensar que o folgadão está lá, vendo aquele assardinhação na frente (verbo derivado da sardinha, um peixe, aquático, por acaso), com uns 3 metros até o cidadão (ou cidadã) que está atrás, lugares vagos, com uma densidade demográfica de um folgado por quilômetro quadrado, e não bate nem um pouco de solidariedade ou altruísmo? Vai para trás, ou se não quer dar marcha-a-ré, que saia do caminho.

E tenho dito. Ravi para presidente!!!

7 comentários:

Unknown disse...

Admiro quem é assim, mas eu não tenho coragem de fazer essas coisas não, tenho um bloqueio que me faz pensar na vergonha que vou passar depois =/

Soraya Wallau disse...

hahaha. Debutante em dia de formatura é brabo. hahaha. Tu viaja, né?! Bjos.

Anônimo disse...

Ravi,

Virei sua fa! Essa historia do onibus acontece todos os dias comigo, so que no trem. Engracado e que quando vc pede pro pessoal dar um espaco todos ficam te encarando como se vc fosse doido.

Bizarro mesmo e que quando alguem faz alguma coisa fora do comum todo mundo fica com aquela cara de pastel como se nada tivesse acontecido....

Vai entender esse povo...

Abs

Ravi disse...

Pois é, isto acontece sempre!

Sacanagem...

Ana Paula disse...

Putz, isso me irrita que vc não tem noção! Aqui é o metro... neguinho espremido na porta e os corredores cheio de espaço... aí passa metrô atrás de metrô e ninguém se mexe pra caber mais gente! Um saco!

Ravi disse...

Vamos fazer que nem no metrô do Japão, que tem os guardinhas de luva branca para empurrar todo mundo para dentro dos vagões :-).

Eitcha povo acomodado...

Cecilia Brandao disse...

Ravi,

Muito engraçado esse seu post!! Infelizmente a situação não é engraçada. O povo aqui é bem estranho mesmo quanto a essas coisas. A Laura, que comentou ai em cima é minha amiga e ela tem horror ao CTrain e morro de rir com as histórias dela...

abração

Cecilia