domingo, 4 de outubro de 2009

Despatriado e com frio

Eu estava lendo no Colorida Vida um post com o título Despatriada e Feliz, que fala sobre diversos tópicos relacionados à "despatriação". O tópico vem de uma "postagem coletiva" criada em outro blog. Resolvi dar o meu pitaco também.

Internet

A sua relação com esta tal de World Wide Web vai mudar. O Skype, você vai começar a usar. O blog, você vai começar a postar. O E-Mail, você vai começar a checar. O MSN, você vai usar para conversar. No Flickr, no Picasa Web, ou qualquer outro serviço de fotos, você vai passar a publicar. Não existem fronteiras com a Internet. O E-Mail que você manda agora, cinco segundos depois já chegou no destinatário do outro lado do mundo. A foto do seu filho desdentado já está sendo vista pelas avós antes da fada do dente deixar uma moedinha embaixo do travesseiro.

O negócio é não ter medo do computador, este estranho!

E o blog? Eu gosto do meu blog. É legal ter um. É importante atualizar com frequência, mas com frequência outras coisas (como viver experiências que podem ser blogadas) ganham prioridade. Tem hora que a gente tem coisa para falar mas que não convém escrever. Outras vezes, o que você escreve nem sempre tem pé nem cabeça, como este parágrafo, por exemplo. Hmmm.

Adaptação

Já me acostumei com a distância dos amigos e da família, embora a saudade ainda aperte de vez em quando. Já me acostumei com a televisão e agora eu até acho a TV do Brasil meio estranha (a Soraya vê Globo no computador dela). Já me acostumei com os shoppings daqui, embora sinta falta dos centro comerciais pequenos, apertados e com lojas minúsculas que a gente tinha em Santos. Já me acostumei com mulheres de burca e homens de turbante. Já sei distinguir, male male, Coreano de Chinês e Japonês de Tailândes. Difícil é dizer quem é da Índia e do Paquistão. Mas tem algumas que são complicadas, que parecem pequenas para quem lê mas que são grandes para quem vive (no caso, eu):

. Impossível ir até o boteco da esquina comer uma feijoada por 10 reais na Quarta-feira. Aqui não tem feijoada nem boteco. Não tem também o sanduíche de pão, bife e queijo na chapa, nem bar com comidinhas, como diria a revista Veja. Aliás, aqui, para poder beber uma cerveja com todos os membros da família (os menores de 18 anos), só se for em restaurante, porque em Pub não entra menor (aqui beber uma cerveja parece algo meio fora da lei, tamanha são as restrições - em compensação, todo mundo fuma maconha em todas as horas e lugares);
. Já falei que aqui não tem misto-quente?
. Para falar a verdade - tirando honrosas exceções, o Brasil ganha de goleada no quesito "comer fora de casa". Aqui tudo é fast-food, mesmo os restaurantes mais caros são todos parte de uma rede, falta criatividade, falta catupiry, falta sal, sobre pimenta. A gente foi em uma pizzaria que tem uma pizza mais parecida com a do Brasil (Pulcinella, eu acho, embora eu deva com certeza ter escrito errado);
. Que mais? No começo eu achei legal eu mesmo colocar gasolina no carro, mas agora eu já acho chato, principalmente quando a mão fica cheirando a gasolina e quando está frio. Faz parte.

As coisas legais:

. Aqui tudo é mais organizado (tanto que às vezes é até meio chato);
. As escolas públicas aqui são muito boas (varia às vezes de escola para escola, mas qualquer escolhinha aqui é melhor do a média Brasileira);
. O trânsito aqui flui é beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem menos estressante do que o trânsito em São Paulo. Tanto que eu dirigo devagar, sem pressa, sem buzinar, sem me preocupar com motos ziguezagueando entre as faixas. Fator de stress - você tem que olhar para a calçada para ver se não tem pedestre querendo atravessar, a multinha é de doloros 500 e poucos dólares se um guardinha te flagrar não dando a preferência;
. Eu acho que aqui é melhor para trabalhar do que no Brasil - pelo menos na minha área - as empresas são mais organizadas, tem mais livros, e salvo exceções os desenvolvedores são mais preparados do que na terra tupiniquim.

Cultura

Que cultura?

:-)

Aqui falta cultura - o Canadá é um país novo, com uma penca de Imigrantes, e Calgary é uma cidade, venhamos e convenhamos, meio provinciana. Aqui é roça, e o rodeio que acontece em Julho é a maior festa da cidade. O povo aqui usa chapéu de cowboy, e em volta da cidade é tudo fazenda. Existem faculdades, existem pessoas alternativas, mas podia ser melhor.

Mas e aí?

Eu gosto da experiência de morar fora. Eu lembro de quando eu cheguei aqui e de todas as coisas novas que eu vi. De ouvir Inglês e 30 outros idiomas no dia-a-dia, do centro da cidade (que eu achei caralhístico, desculpe o palavrão), de ver as montanhas de longe, de sentir as estações do ano (os três dias de Outono e Primavera e os meses de Verão e Inverno). Mas eu acho que nós cansamos de Calgary - aqui não tem mar, é frio demais (nevou hoje, segunda semana do Outono), a cidade é ótima para quem gosta de esportes (não é bem o nosso caso), e não é tão legal para quem gosta de passear e ver coisas diferentes e urbanas (mais o nosso caso).

É engraçado porque a resposta para a pergunta "porquê você escolheu Calgary?" normalmente é "porque em Calgary tem mais emprego". Não deixa de ser verdade (pelo menos é o que dizem os jornais e afins), mas a impressão que eu tenho é que outras cidades são escolhidas por outros motivos além do monetário (ter dinheiro para comprar comida é importante, of course). Os planos de ir para a Costa Oeste seguem firmes e fortes.

Se eu posso dar conselhos, aí vai:

. Aprenda a língua - eu acho curso de Inglês uma tortura, e se este for o seu caso aprenda em casa - tente ler livros em Inglês, veja filmes no idioma original e veja como as pessoas falam, ouça audiobooks, como a Soraya fez diversas vezes, coloque a cara a tapa, arrume um emprego, e não tenha medo de errar. Falar um Inglês razoável abre dezenas de portas e melhora muito a qualidade de vida;
. Use a sua cidade, vá em galerias, frequente os cinemas, conheça lugares interessantes que não sejam interessantes apenas pela paisagem, conheça pessoas fora da comunidade Brasileira da sua cidade (os nossos melhores amigos aqui são Brasileiros mas é sempre bom conhecer outras pessoas), viva da mesma maneira que você vivia no Brasil;
. Use mais a farmácia do que o médico (sério - da última vez que meu ouvido inflamou, a farmacêutica me deu o antibiótico e me disse como tomar o remédio). O atendimento médico costuma demorar e, se você não precisar realmente de um médico, é melhor não se dar o trabalho;
. Ikea. Ikea. Ikea;
. Em São Paulo tinha o Pão de Açúcar, o Extra e o Carrefour. O Pão de Açúcar daqui é o Safeway, o Carrefour e o Extra são a Superstore, e o Wal-Mart é como o Extra e o Carrefour, mas sem frutas e com gente estranha; Cada supermercado para uma ocasião. Eu odeio o Wal-Mart, mas tem horas que não dá para evitar ir lá.

Escrevi demais!

PS: Calgary é uma cidade legal, é bonita, estruturada, organizada, limpa, ótima para quem gosta de praticar esportes, do lado das montanhas, com transporte público que poderia ser melhor mas que funciona. Mas o mundo não é pequeno e nós nunca nos sentimos casados com a cidade, por isso que eu de vez em quando destaco os pontos negativos que nós vemos aqui. Mas eu conheço muita gente que adora a cidade e que não pensa em ir embora, porque coisa boa, aqui também tem.

Fui!

6 comentários:

Ciça Donner disse...

hahahaha e Dois vivas ao Ikea!!!

Obrigada por participar amore!

Nê & Lelê disse...

Oi Ravi!!

Gostei do seu post, bem sincero!!

Uma ótima semana!

Soraya Wallau disse...

Amei o post! Tudo verdade verdadeira.
Bjos

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Nossa, que legal um expatriado.

A adaptacao é dura, as comparacoes nao temos como nao fazê-las; depois disso tudo entao, o melhor é arregacar as mangas e aprender a língua...

Abracos

Anônimo disse...

Muito bom seu post!!!!

tropcanadians disse...

Olá!
Nunca tinha lido o blog de vcs...adorei! Muito útil o seu post!!
Ainda não estou no Canadá, mas em maio estou chegando. É sempre bom ouvir opiniões.
abraço, Alice