Nem tudo é frio e inverno...
Ontem nós fomos no
Calgary International Children's Festival, ou Festival Internacional Infantil de Calgary, uma festa que acontece todo ano em Calgary com eventos destinados à criançada - nós fomos em duas apresentações, a
Butterflies Installation, uma peça interativa em que as crianças interagem com a personagem em um palco que é sensível aos movimentos das pessoas, é bem louco, o Arthur adorou, e todo mundo pode brincar um pouco. E, depois desta peça, fomos assistir uma outra em um
hall (não sei como chamar em Português - talvez salão?) chamado
Jack Singer Concert Hall, muito bonito. E a peça era Brasileira! Um grupo de Brasília chamado
O Cano, com três personagens que fazem música usando canos de PVC e que arrancaram umas boas gargalhadas da criançada.
Hoje, Domingo, fomos em um churrasco coletivo no
Fish Creek Park - eu já havia ido neste parque antes mas nunca tinha visto o "creek" (riacho), tudo o que eu consegui absorver de quando fui lá era que aquele lugar era simplesmente um MONTE de mato no meio da cidade, o que em si já é um feito quando lembramos de como o Parque do Ibirapuera é importante para São Paulo. Mas quando fomos ao parque hoje de manhã fomos por uma outra entrada, que leva para uma escadinha de madeira, que leva para a área do parque, de onde se pode ver... o RIACHO! Foi como o Fábio me perguntou hoje, "qual é o nome do creek?", e eu disse "bom, deve ser Fish Creek, né?". Pois é, eu vi o danado do Fish Creek. E o churrasco foi ótimo, mas o melhor de tudo foi o Arthur voltar para casa tão sujo que deixou a água com cor de terra na hora de tomar banho. Fazia tempo que o baixinho não brincava tanto com terra e com água! Da próxima vez que a gente voltar, eu vou é levar meu short (sunga de Santista) para tomar um banho naquela água que fez as minhas canelas doerem de frio.
Sensacional.
O Inverno acabou mesmo!
A cidade está bonita, uma beleza que a gente esquece que existe. As ruas estão verdes, as árvores estão florindo, a nossa vizinhança é bem mais ajeitada do que os outros lugares onde já moramos antes, temos um parquinho do outro lado da rua e provavelmente uns outros 3 ou 4 em um raio de 1 quilômetro ao redor da nossa casa. Embora o centro da cidade tenha os seus mendigos e os seus moradores estranhos, acho que convivemos todos em paz. Eu me lembro que em São Paulo tínhamos o parque da Aclimação, que era um parque bem bonitinho, mas que tinha algumas coisas que incomodavam - o lago sujo e poluído, as crianças de rua que roubavam o trabalho de um dia do tiozinho que vendia algodão-doce, e o comércio de drogas que acontecia em alguns cantos do parque ã plena luz do dia, e também os abomináveis flanelinhas. Eu acho flanelinha cobrar para as pessoas pararem o carro na RUA um crime, e eu acho que demoraram demais para fazer isso SER de fato um crime. Eu NUNCA vi flanelinha aqui - mas, justiça seja feita, já vi mendigos pedindo dinheiro em semáforo.
Voltando aos flanelinhas, o que mais me revoltava é saber que era fácil acabar com o domínio deles no Ibirapuera - se todo mundo parasse o carro na Assembléia Legislativa, que é guardada por Policiais Militares, provavelmente o problema ia acabar - mas eu acho que no Brasil a gente tem uma cultura de perdão e tolerância que já foi longe demais.
Bom, mas não é este o assunto - depois de
dois crimes assombrosos em São Paulo a sensibilidade anda à flor da pele. Eu acho que o governo deveria mudar o sistema Judiciário, quintuplicar o salário dos policiais, comprar carros de polícias decentes e punir exemplarmente os corruptos, e deixar na cadeia quem é para ficar na cadeia. De longe as coisas parecem tão simples, e talvez elas sejam mesmo - no Brasil temos uma tendência de contonar os problemas do dia-a-dia com soluções que não resolvem nada.
Ainda temos muito o que crescer.
Perdi o fio da meada do que eu estava conversando antes.
O que eu queria dizer é:
Mesmo com a distância, a saudade, o frio, as diferenças culturais, ainda estamos aqui, não é? Tem coisas que fazem a vida aqui valer a pena - o verão, os parquinhos, as ruas arborizadas e sem aqueles fios feios, as bibliotecas e os seus livros e DVD's, os festivais que acontecem hora ou outra, os parques provinciais, o fato de que eu nunca vi arame farpado ou cacos de vidra em cima de nenhum muro, e afins - nesta época do ano os problemas ficam menores, e as qualidades, maiores.
Fui!