quarta-feira, 9 de julho de 2008

Reflexões

Antes de refletir, algumas fotos do Stampede:


Eu e o pequeno na roda gigante


Soraya e o pequeno no Carrossel


Ó Santos ali, ó


Eu e o boi imenso

Muito bom. Tem mais uns fardinhos de foto em casa, depois eu coloco na Internet.

Falando da vida, aqui no meu trabalho o número de trabalhadores diminui pela metade nos últimos meses. Também, recebendo 70% do salário não dá. Primeiro foram os contadores a ir embora, um de cada vez até que os três (dois senhores e uma jovem) vazaram. Depois, foi a vez da garota de marketing da empresa, que inventou algumas idéias legais que agora ficaram para trás. O Harminder, programador Java que fazia parte da minha equipe, também vazou e por um salário bem melhor. O Ruangvid, o cara da Tailândia, também foi dessa para a melhor, é gerente-assistente de vendas em uma loja de sapatos no Chinook - ganhando a mesma coisa, mas mais perto de casa. Os últimos a respirar o ar de liberdade foram o Curtis (o Ucraniano) e o Eugene (o Russo), que deram as boas novas nesta Segunda-feira.

Na minha sala sobramos eu, o Jerry, designer e programador PHP, a Karina (esposa do Russo), designer também, que deve escapulir nas próximas semanas, o Yong, outro programador Java que também pretende passar dessa para a melhor em breve, e o Ray, que está em um programa de trabalho temporário (só no verão - algumas pessoas viajam, outras trabalham). É engraçado porque aqui tem uns 10 computadores e 4 pessoas, mas não dá para aumentar o número de monitores porque eu não tenho mais saídas no meu computador (shit!).

E eu? Eu devo ir dessa para a melhor em breve também. Na verdade eu só estou esperando a papelada sair - mais uns 15 dias e eu vou mandar aquele videozinho do FREEEEEEEEDOM para meu chefe. Acho que não deve dar nenhum enrosco, mesmo que o processo demore um pouco mais para ser concluído não tem problema, a vaga já é minha. A gente deve entrar em uma "nova fase" depois disso. Eu pelo menos pretendo comprar um carro até o fim do ano, e eu acho que não vai ser um "pois é". Assim que sair o meu Tax Refund eu vou começar a acertar as coisas - deve demorar só uma ou duas semaninhas a mais porque eu caí na malha fina e fui auditado (desk audit, como eles chamam). Ontem eu mandei um envelope com mais de 50 folhas - cópia de tudo que é documento possível - para provar que eu estou no Canadá, que eu estava empregado, que a gente existe, que 2 + 2 = 4 e poraí vai. Como outras coisas na vida, pode demorar um pouquinho mas no fim vai!

Bom, algumas lições que eu tirei da minha experiência no Canadá até então (em relação ao meu empregador):

  • Quando eu fiz a entrevista eu achei tudo muito fácil, muito legal, sem perguntas técnicas, só um bate-papo e mais nada. Quando eu cheguei aqui eu vi que a qualidade da contratação realmente é ruim - algumas pessoas trabalharam por seis meses em um módulo e não chegaram à lugar algum, sendo que o tempo necessário para concluir tal tarefa seria de poucas semanas, no máximo;
  • Eu acabei indo demais pela opinião dos outros e fiz duas cagadas:
    1. Não pesquisei muito sobre a empresa antes de vir;
    2. Saí do meu emprego no Brasil antes de ter a Work Permit em mãos.
  • Não ter pesquisado muito sobre a empresa não me deu a total visibilidade de que o dono da mesma é um Zé. Mas, não vou ser chato, a gente queria mesmo vir para o Canadá e hoje em dia eu não me arrependo da decisão de ter vindo, mesmo vindo trabalhar neste sanatório;
  • Ter saído do emprego no Brasil é que foi furada. Fiquei seis meses no Brasil praticamente sem receber, e isto, vamos dizer de forma bem resumida, não foi muito positivo para a minha conta bancária. Foi uma situação chata e é algo que eu definitivamente reitero - está para ir trabalhar em outro país e precisa esperar alguma documentação? Pegue a documentação e depois peça demissão de onde quer que você esteja. Não faça na ordem contrária. A gente conheceu uma família do Brasil que decidiu vir para o Canadá com uma Work Permit - o processo ia levar mais de seis meses, depois de uns três meses o chefe da família pediu demissão do seu trabalho e ficou esperando o processo ser concluído. No fim das contas, a empresa no Canadá acabou nem dando entrada no processo e a família ficou a ver navios - eu acredito que eles não poderiam vir de qualquer jeito, o governo do Canadá não ia aceitar uma família de 5 filhos com uma renda anual de meros 40000 dólares (acho que este era o valor aproximado da oferta de trabalho que eles receberam);
  • Depois que eu cheguei aqui as coisas funcionaram bem, com alguns percalços no meio do caminho, até que os pagamentos começaram a rarear uns meses atrás e começou a diáspora. Alguns meses no mercado (demorou mais do que eu achei que fosse demorar), e eu consegui alguma coisa, uma empresa bem decente, com pacote completo de benefícios e escritórios com janelas (atualmente o local onde eu trabalho é desprovido de janelas). Uma importante lição que eu tirei é que para se fazer uma entrevista decente, só se for ao vivo e em cores. E ter ficado no Canadá, trabalhando nesta mina de ouro de tolo onde eu estou, me deu o reforço no Inglês e a carga técnica necessária para poder "passar" em todo o processo de contratação (foi um dos mais longos que eu já vi - sem dinâmicas de grupo, ninguém merece);
  • Eles precisam de muita mão de obra aqui no Canadá. Na área de TI, também. Mas não é tanto assim a ponto de eles atirarem para todos os lados. Contratações por telefone podem até funcionar, e para ter certeza de que você está indo na direção certa é bom se certificar que a empresa é séria, que está oferendo um salário justo, e que o processo de seleção pelo qual você está passando é criterioso (se não for criterioso, é sinal de que a empresa pega qualquer um - neste caso, ou você vira Messias ou vira Judas);
  • E não tenha ilusões de grandeza em relação ao Canadá...
    1. Aqui dinheiro não dá em árvore;
    2. Eles precisam de gente para trabalhar em todas as áreas, mas se você não tiver muitas qualificações pode demorar um pouco para chegar nos melhores empregos;
    3. Existem despesas fixas aqui, igual ao Brasil. Tem que pagar plano de saúde (às vezes o empregador paga), não é caro, mas tem que pagar (vai ser grátis a partir de Janeiro de 2009). Tem que pagar aluguel como qualquer outro cidadão, TV a cabo, telefone, cerveja é mais cara, tem que levar tudo isso em consideração, colocar na ponta do lápis e ver quanto dinheiro vai sobrar no fim do mês, não esquecendo de tirar a fatia do imposto de renda sobre o salário anual (que sempre será bruto);
    4. O inverno É frio mas é sobrevivível. O que pega mesmo é a saudade da família;
  • Mas também tem o lado positivo, claro. As escolas são muito boas, Calgary é uma cidade limpa, violência aqui praticamente não existe quando se compara ao Brasil, a gente mora em uma casinha sem muros, este tipo de coisa é que faz o Canadá valer a pena. Até agora, a gente acha que continua valendo, e vamos ver se este emprego novo dá uma nova injeção de ânimo no esqueleto.
Agora tenho que ir que senão eu perco a carona e tenho que andar até o trem.

Fui!

4 comentários:

Luiz Alberto disse...

Ravi,

É muito bom saber da tua história. Tenho esposa e duas filhas e estamos adiando o início do processo de imigração para economizarmos dinheiro e minha esposa terminar a graduação de Direito. Temos muito medo se valerá a pena, mas faz parte. Acreditamos em uma vida melhor por aí para nós e nossas meninas.

Um Forte Abraço,

Luiz

Ana Paula disse...

Adorei as fotos e sua reflexao. Nao sabia que vc tinha vindo com Work Permit, pra mim vc tinha vindo como a gente - imigrantes sem trabalho.

Que bom que vc ja tem outra coisa no gatilho e parece que vai ser bem melhor pra voces, ne? Otimo!

Boa sorte no trabalho novo!

E o MSP vai ser gratuito so em Alberta? Fiquei curiosa agora... Bem, a minha empresa paga o meu, menos mal. Mas se tivesse que sair do bolso, complica.

Alias, o povo tem a ilusao que a gente aqui ta nadando no dinheiro, ne? So porque moramos fora!!! hahahah.. Ledo engano!

O Lacombe disse...

Ravi,
uma mudanca eh sempre boa, da um gas novo. Legal voce conseguir se 'movimentar' no mercado de trabalho...acho que eh mais uma diferenca com o Brasil...bem, talvez na sua area seja assim aqui tambem...
abracos

Ravi disse...

Oi povo!

Desculpe a demora em responder os comentários, mas vamos lá. Octávio, na minha área é relativemente fácil conseguir emprego, no Brasil seria até mais fácil porque lá a minha rede de contatos é maior.

Ana, pois é, eu já vi isso acontecer mais de uma vez, até te mandei uma historinha por E-Mail.

Luiz, quem não arrisca não petisca. É difícil não valer a pena.