terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sleepless in Calgary

A mulher me enxotou da cama e aqui estou escrevendo no blog.

Hoje, esfriou. A temperatura caiu para -13 graus. Se fosse o meu primeiro inverno aqui eu estaria super hiper mega animado (o meu olho crítico me diz que mais de um adjetivo de humor = gay = mas a frase ficou legal, então vai ficar aí de qualquer jeito) de encarar uma temperatura nunca antes encarada, mas eu vou esperar para dizer "está frio pacas" quando os termômetros cruzarem a linha dos -25 graus. Este dia deve chegar logo.

Não que os -13 graus sejam assim, um passeio no parque. Hoje eu fiquei tremendo de frio debaixo de incontáveis malhas de materiais sintéticos e naturais. Se eu fosse mais rico, seriam mais materiais naturais do que sintéticos, mas a situação é a oposta. Estes dias fui no Wal-Mart e vi um pacotaço de meia por 7 dólares (10 PARES!!!), mas depois do pé suar que nem um desgraçado no primeiro dia, e do chulé quase me fazer ser demitido (ok, exagerei) durante a tirada do tênis do meio da tarde, fui investigar e descobri que a meia não tem algodão - nada - niente - zero. Acho que aqueles nomes todos na etiqueta só querem dizer uma coisa - a meia é feita de petróleo, basicamente.

É negada. Algodão é algodão e não tem poliqualquercoisa que vá mudar uso.

Para as roupas de frio, a minha limitada experiência me diz que existem alguns tipos:

... eu tinha escrito uma lista enorme ... mas na verdade a lista é pequena ...

Casaco de frio, tem que comprar à prova de vento, o que significa um casaco feio de nylon do lado de fora. É eficiente. Funciona. Melhor ainda se, na parte interna, ele tiver algum material quentinho, como flanela ou algo que o valha. O forro vai ser de material sintético (para os mano) ou de material natural, como penas de ganso (para o doutor). É importante que o casaco tenha uns elásticos aqui e acolá para fazer ele "grudar" no seu corpo e deixar o ar frio do lado de fora. É importante que o casaco seja leve e flexível (mais uns pontinhos para os casacos de nylon).

A Soraya tem um casaco/ tubo marrom que ela odeia, mas que é quentinho. Eu preciso comprar um casaco que seja um pouco mais bonito do que aquele, o que não deve ser uma tarefa muito difícil. Eu sou o "Zé eficiência sobre a beleza", mas nem sempre um Volvo resolve tudo (Volvo aqui é sinônimo de carro bom mas feio).

Meu casaco é azul, cinza, quente, velho, bom e eu ganhei de um amigo meu que desistiu do Canadá quando o chefe deixou de pagar o salário. Na verdade eu acho que eu levei a mala de volta menos este casaco e duas calças. Era um misto de inverno começando e salário minguando - era a hora de calças as sandálias da humildade e vestir as roubas chupinhadas doadas.

O inverno me lembra de duas coisas da qual eu desencanei completamente, patinar e usar botas de neve. Ambas pelo mesmo motivo, os meus pés sofriam em uma dor agonizante após estas atividades. A bota de neve, eu dei um jeito, comprei um tênis bom e uma meia melhor. Patinar, eu posso viver sem. Parece ser muito bom, parece ser muito legal e, principalmente, parece ser muito mais fácil do que é. Eu não preciso amar o inverno, eu sou do Brasil e posso xingar o frio o quanto eu quiser. Esporte de inverno é o c*, um dia eu até vou tentar esquiar, mas tenho certeza que não vai ser a mesma coisa que é descer uma duna (minha experiência se resume à uma descida e à quase morrer de exaustão na subida - subir na areia é como a lesma que sobre 10 centímetros de dia e desce 5 à noite - cada passo tem metade do efeito).

Sabia que ducha elétrica é coisa do Brasil e de mais uma meia dúzia de países no mundo? Se você quiser deixar algum Canadense de queixo caído é só contar que você tem uma resistência elétrica em contato com a água 10 centímetros acima da sua cabeça, normalmente com o fio terra ligado no encanamento, o que faz com que o registro dê choque - e aí você conta a história dos chinelos de borracha (rubber slippers) na beira do chuveiro para o banho não dar choque.

Depois você conta de como o fio pode explodir se você for um eletricista tão bom quanto eu. Ou de como a resistência queima mês sim, mês também. Ou daquele arame amarrado no chuveiro para ele não cair. Ou de como é difícil achar o equilíbrio entre a água bem quente/ não desligar o chuveiro nos raros dias de frio.

Pode ter certeza que depois dessa você não terá adicionado um turista Canadense aos inúmeros (ah ah) turistas estrangeiros que o Brasil recebe. Mas, para contrabalanças, mande o gringo/ gringa ir comer em um restaurante Brasileiro e explique que em qualquer esquina a comida é caseira, é boa, e é salgada como tem que ser. Pode ser então que a situação fique empatada.

Bom. É hora de ir dormir. No Havaí. Aqui já passou, agora é 1:22 da manhã.

Fui!

3 comentários:

O Lacombe disse...

Esse foi dos bons, velho Raw.
Abracos

Soraya Wallau disse...

Raw, vc precisa de escrever mais posts iguais a esse, se quiser falar mal de mim é só deixar o cartão na mesa q eu perdoo tudo.
Bjinhos.

César, Valéria, Lara e Anaclara disse...

Me diverti muito com esse post. Essa do chuveiro valeu o ingresso.

E a vida segue...